segunda-feira, 19 de julho de 2010

Com o palavra: O " Pai Mei" do Surf Mundial

Slater

Motivação em busca de novas marcas

Kelly Slater conquistou muito mais do que qualquer surfista poderia imaginar e, mesmo assim, não para. Aos 38 anos, ainda tem condições físicas para bater as jovens promessas do circuito e pode levar, pela 10.ª vez, o título mundial. Para isso, precisa recuperar a liderança do ranking, que era sua até a etapa passada, em que foi vice-campeão, em Imbituba-SC. O circuito mundial de surfe recomeçou no fim de semana em Jeffreys Bay, África do Sul, onde o local Jordy Smith venceu e assumiu a ponta. Mas todos os olhos se voltaram para Slater. "Essa é a forma como minha vida funciona, estou acostumado." A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado.

Onde você, aos 38 anos, ainda encontra motivação para competir, mesmo após nove títulos mundiais e até com uma fratura no pé, como quando venceu em Bells Beach no início de abril? Não é muito estressante passar tantos anos viajando pelo mundo sob pressão por vitórias?

Amo o que eu faço e a motivação eu encontro no caminho. Algumas vezes é por viver uma disputa pessoal com outro surfista. Outras, ao perceber que ainda tenho muito para aprender com a vida e com as pessoas que estão a minha volta durante um campeonato. Essa é a forma como minha vida funciona e estou acostumado com isso agora.

Você tem muitas atividades profissionais além do surfe. Elas não interferem no seu desempenho?

Surfar é a parte principal da minha carreira, mas o que ocorre além disso também é importante. Tenho alguns projetos correndo simultaneamente: o surfe, a música (Kelly já teve uma banda, The Surfers, e agora faz participações em shows de seus amigos Ben Harper e Jack Johnson), o design (costuma desenhar roupas de sua coleção para a Quiksilver e até pranchas). Estão todos interconectados e preciso encontrar tempo quando não estou competindo para realizá-los. Normalmente, é tarde da noite, quando não consigo dormir.

Você parou de competir por três anos (1999 a 2002), quando estava no auge, ameaçou parar de competir outras vezes. Já tem uma definição de quando vai parar?

Não. Ainda tenho muita motivação para competir contra os surfistas talentosos que estão no circuito.

Você conquistou três títulos (1997, 2003 e 2009) nas etapas do Brasil do circuito mundial. Também levou o título mundial aqui mesmo com derrota em 2005. Como se sente quando vai ao País?

Amo o Brasil. As pessoas aí são muito apaixonadas, às vezes um pouco invasivas, exageradas no assédio. Mas, com certeza, é um lugar de que gosto muito e que teve um papel importante na minha vida no circuito mundial.

Você está em 3º do ranking mundial, perto da ponta, com chances de vencer de novo. Está no caminho do incrível 10º título. Como ficam suas expectativas para os próximos campeonatos?

É difícil, mas tento não ter muitas expectativas na vida. Quando você cria muitas expectativas, as coisas sempre acontecem de forma diferente e você acaba se decepcionando.

O Brasil já tem uma tradição no surfe, mas nunca conquistou um título mundial. Por quê?

Comparado aos Estados Unidos, Havaí e Austrália, o surfe é novo no Brasil, mas está evoluindo rapidamente. Como você conquista um título mundial? Você precisa ser capaz de estar entre os melhores em todas as condições e tamanhos do surfe. Surfar é uma arte e há muitas linhas diferentes para desenhar em uma onda. Não é apenas uma questão de pontuação ou de dar uma manobra empolgante, mas a performance geral incluindo o que você faz no intervalo entre as manobras, como você conecta toda a onda. Durante a onda, há o começo, o fim e um clímax em algum momento. A posição das suas mãos e o propósito das suas manobras, a essência de suas decisões numa onda são importantes. Para capturar isso, é preciso olhar para fora das competições, para o mundo que está ao seu redor.

Adriano de Souza venceu você no ano passado. Você acredita que algum dia ele possa ser campeão mundial?

Ele está evoluindo e obviamente tem a habilidade de vencer eventos e bater os melhores surfistas nas melhores ondas do mundo como tem feito.

Você é definitivamente o surfista mais famoso do mundo. É também o surfista menos presente na festas do circuito, enfim, curtindo por aí. É muito difícil manter sua privacidade?

Tento manter um ambiente saudável ao meu redor. Preciso ter espaço e paz para me concentrar. Os fãs às vezes são muito intensos e exagerados. Então, algumas vezes é difícil lidar com isso durante os campeonatos. Faço o meu melhor.

Isso afeta sua vida pessoal? Você tem uma filha (Taylor, 13 anos, que vive com a mãe na Flórida) e normalmente não podemos vê-la com você durante as competições.

É, provavelmente você não vai vê-la mesmo comigo em um evento. É simplesmente muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Ela só esteve em dois eventos em que participei.

O SUPERCAMPEÃO

Nome: Robert Kelly Slater
Idade: 38 anos (11/2/1972)
Local de nascimento: Cocoa Beach, Flórida, Estados Unidos
Altura: 1,75 m
Peso: 72,5 kg
Trajetória: É o maior vencedor da história do surfe. Venceu nove vezes o circuito mundial, incluindo cinco vitórias consecutivas (1994-1998). Também foi o mais jovem (20 anos) e o mais velho (36 anos) a vencer

Fonte: Giuliander Carpes - O Estado de S.Paulo